quinta-feira, 8 de março de 2007

Conto


Da janela dos meus olhos

Da janela do meu quarto vejo o mundo lá fora. E que mundo esse que eu vejo! Belas lavadeiras passam sob a minha janela; equilibrando cestos de roupas por lavar, seguem cantarolando, sorridentes, rumo ao riacho que corta a cidadela. Do outro lado da rua dois piazotes atiram seus peões salteadores numa batalha que parece não ter fim. Seu Manoel, dono da venda, sempre ao pé da porta, mateando enquanto espreita os dois guris e suas traquinagens. Mais adiante, a Dona Fátima segue arrumando o seu irretocável e perfumado jardim. O aroma que emana daquelas coloridas flores invade o meu catre e então me pego a olhar para dentro. O quarto, sombrio, cheio de mofo e poeira, bem diferente do mundo lá fora. Da janela pra dentro tudo é sem brilho, sem cor. Tudo escuro, vazio. Nem mesmo o sol e o perfume das flores de Dona Fátima conseguem iluminar a negritude da minha casa. É somente da janela de meu quarto que eu vejo um mundo diferente, brilhante, colorido. Cada dia um retrato diferente, uma paisagem que se destaca, uma personagem que se cria na janela dos meus olhos. A minha imaginação pinta quadros que os meus olhos não conseguem ver. Sou cego!

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